terça-feira, 1 de abril de 2014

O texto dissertativo nos vestibulares.

 
por Eduardo Eide Nagai.


O ARGUMENTO

Podemos dizer que os argumentos são todos os recursos utilizados para defender determinado ponto-de-vista expresso no texto dissertativo. No texto abaixo, vemos que Padre Antônio Vieira descreve os principais tipos de argumentos que um autor pode utilizar para sua opinião.

Trecho do Sermão da Sexagésima

“(...) O Sermão há de ser duma só cor, há de ter um só objeto, um só assunto, uma só matéria.
Há de tomar o pregador uma só matéria, há de defini-la para que se conheça, há de dividi-la para que se distinga, há de prová-la com a Escritura, há de declará-la com a razão, há de confirmá-la com o exemplo, há de amplificá-la com as causas, com os efeitos, com as circunstancias, com as conveniências que se hão de seguir, com os inconvenientes que se devem evitar, há de responder as duvidas, há de satisfazer as dificuldades, há de impugnar e refutar com toda a força da eloquência os argumentos contrários, e depois disto ha de colher, há de apertar, há de concluir, há de persuadir, há de acabar. Isto é o sermão, isto é pregar, e o que não é isto, é falar de mais alto. Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da mesma matéria, e continuar e acabar nela.”

Neste trecho, percebemos que Padre Antônio Vieira nos ensina o processo de produção de um sermão, podemos facilmente transpor esses moldes para uma dissertação. E consequentemente ele relata algumas formas de argumentar. Para começar, ele começa falando que o texto deve ter “uma só matéria”, “um só assunto”, percebemos aqui que o autor defende que o texto deve ter uma unidade temática. Os argumentos devem estar organizados de forma que um não se contraponha ao outro. Depois ele prossegue dizendo que devemos provar através das Escrituras. Escrituras é a Bíblia, no caso o documento utilizado por ele para comprovar seus argumentos, mas podemos dizer que qualquer fonte de citação é interessante para que nosso ponto-de-vista seja comprovado, desde que a opinião expressa na citação esteja de acordo com a opinião do autor da dissertação. Em “há de confirmá-la com o exemplo” vemos que os exemplos também são recursos que comprovam uma determinada opinião, servem como argumento. O trecho “há de amplificá-la com as causas, com os efeitos” demonstra um tipo muito bom de argumento: relação entre causas e efeitos. Discutir sobre a causa e efeito de um determinado tema é mostrar a origem do problema descrito no texto, e em seguida mostrar as suas conseqüências na sociedade. Também é interessante o argumento de refutação: “há de impugnar e refutar com toda a força e eloqüência os argumentos contrários”. Toda opinião polêmica implica em uma oposição. Utilizar esse posicionamento contrário ao seu é um bom recurso desde que se utilize refutando, ou seja, contradizendo o oponente.

Claro, nem todos os recursos argumentativos foram descritos nesse texto, porém os recursos descritos aqui já são o suficiente para um bom texto dissertativo. Concluindo, a dissertação requer uma seleção equilibrada de bons argumentos. Só vamos conseguir conhecê-los com uma boa leitura diária de jornais, revistas e livros.


A DISSERTAÇÃO DE VESTIBULAR


Às vezes já temos várias ideias de como escrever a nossa dissertação em prosa, porém, sempre nos vem à cabeça quando começamos: como começar, não é mesmo? Pois é, isso é comum, muitas vezes isso acontece porque não sabemos como ordenar, ou organizar um texto dissertativo. Para isso devemos ter em mente um plano. Todas as dissertações devem seguir um raciocínio lógico para serem eficientes. Esse raciocínio deve permear todo o texto.

Na dissertação há três partes principais: a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. Antes de iniciarmos, temos que planejar o que faremos nessas três partes do nosso texto. Na introdução, apresentaremos o grande tema que abordaremos na redação. Além do tema, deve estar claro o nosso ponto de vista. Lembremos que tema e ponto de vista são coisas diferentes, o primeiro é o assunto que trataremos e o ponto de vista é o posicionamento do autor do texto em relação ao tema.

A introdução é extremamente importante porque é a parte onde iremos antecipar para o leitor os nossos objetivos. O leitor se motivará ou não a ler o texto de acordo com essa parte. Em seguida faremos o desenvolvimento. Lembre-se de que a dissertação é um tipo de texto que se baseia em convencer alguém de alguma coisa. O desenvolvimento é o momento para isso. Devemos desenvolver todos os recursos possíveis para convencer o leitor do ponto de vista abordado na primeira parte (introdução).

No final de nosso texto, devemos concluir o nosso raciocínio. Resumindo o que já fora dito e fazendo a última tentativa de convencimento, relacionando brevemente todos os argumentos. É também na conclusão que trataremos as possíveis soluções de problema levantado no corpo do texto.
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Por exemplo, se falarmos de violência, que será o tema, podemos ter como ponto de vista: “a desigualdade social potencializa a violência na cidade”. Essa afirmativa é o ponto de vista que queremos defender. Essa frase-síntese deve constar claramente na primeira parte do texto. Em seguida, devemos desenvolver alguns argumentos sobre esse ponto de vista, por exemplo, definir as causas e conseqüências da violência na cidade. Mostrar dados estatísticos e citações de outros autores, etc. Outra possibilidade é falar um pouco do histórico da violência. Esses três argumentos (causa e conseqüência, dados estatísticos e histórico) já bastam para uma boa redação. Lembre-se de selecionar bem os seus argumentos, três já são o suficiente, pois muitas informações podem prejudicar o leitor, ou poucos argumentos podem não bastar. Para finalizar relacionaremos todos esses argumentos e faremos um desfecho como esse:

“Como vimos, a violência está relacionada com todo o contexto social em que vivem os cidadãos da comunidade urbana. A desigualdade não é a causa única, mas ao longo da história se mostrou um agente catalizador desta violência aumentando as injustiças sociais e a brutalidade da relação humana com o mundo.”
 
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De qualquer forma, todas as partes do texto devem estar relacionadas. Não podem haver informações que não sejam explicadas de forma clara e coerente com o que já fora dito. O que aparecer na introdução e no desenvolvimento deve refletir na conclusão. Conhecendo essas partes, fica mais fácil começar o texto. Um bom plano deve estar na cabeça do autor para que não entre em contradição. Bom texto para todos.




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